quarta-feira, 25 de abril de 2018

Gosto por Batalha

 “Não. Yudenianos não nascem com gosto por batalha. Nenhuma criatura nasce com o desejo de matar. Nem mesmo animais selvagens… Filhotes de leopardo não querem caçar. Querem apenas comer. O desejo de morte se cria. Ele desperta e evolui. Não importa o quanto você diga que não gosta de sangue, uma guerra é como a selva: você mata ou você morre, você caça ou é caçado. E ninguém gosta de ser caçado. Não importa o quanto você diga que não gosta de sangue, meu filho, não importa quantas vezes você repita, chorando, esperneando ou se desculpando. Você precisa ser mais do que isso. Você quer ser mais. Não importa o quanto você diga que não gosta de sangue, quando um corpo desfalece sob o peso do seu martelo, algo dentro de você comemora, seja de orgulho, seja de alívio. Você foi superior. Quando sua lâmina defende a vida de alguém que você ama, quando a sua arma vence uma guerra! Você foi superior!”
Estas palavras foram ouvidas por sir Lance Trevor ainda quando criança, e se assentaram em um terreno fértil, em um canto desolado de sua mente. Floresceram, e se provaram verdadeiras. Tornaram-se a base de seu pensamento, de sua disciplina, de sua ideologia. Combate após combate, vitória após vitória, de espada em punho e de escudo erguido, vociferava em uníssono com seus irmãos de armas: Yuden! Yuden! Yuden!
Porém, assim como todo guerreiro de Keenn regozija-se testemunhando seus inimigos perecerem, também clama ao Senhor da Guerra para que não conheça o beijo da morte quando doente em uma cama, e sim quando vencido em combate.
A invasão de Bielefeld estava planejada. Yuden estava certa de que tomaria a cidade de Roschfallen. Sir Lance Trevor estava no fronte, cortando, decepando, esmagando. Urrava de júbilo, erguendo a lâmina vermelha de sangue de cavaleiro. A formação dos soldados yudenianos era impecável, impenetrável. Porém, ainda assim, o primeiro ataque não teve êxito. De alguma forma, a capital resistira, e os soldados receberam ordens para recuar.
Mas o general Klinsmann não se daria por vencido. Não permitiria tal humilhação. O novo plano envolvia um ataque brutal. Os colossos yudenianos, o triunfo d’O Exército com uma Nação marcharia sobre a terra manchada de sangue!
O batalhão de Sir Lance novamente ergueu os escudos. Enquanto os gigantes de aço e fumaça eram preparados, os soldados enfraqueceriam as defesas inimigas. Sem protesto, sem objeção, sem lástima, os guerreiros entraram em formação e mais uma vez pisotearam a grama já destroçada pelo peso das grevas.
“Filhotes de leopardo não querem caçar. Querem apenas comer.”
Sir Lance invadiria Roschfallen. Sir Lance venceria a batalha. Sir Lance retornaria para casa glorioso, e seria o exemplo que seu filho, ainda com medo de matar, seguiria.
Não.
Um único momento de distração permitiu que uma espada imbuída com o poder da justiça fizesse o seu sangue escorrer farto. Mas, mesmo sentindo o fluido viscoso aquecendo a pele antes fria pelo contato com o metal da armadura, mesmo sentindo o beijo da morte finalmente tocar-lhe os lábios, seus olhos de espanto não conseguiam se desviar dos céus.
- Por Keenn! – gritou um companheiro de batalha – Aquilo é um bárbaro gigante voador?

Autor Gabriel Scarssi Krupp

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